sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Abandono histórico

O desprezo das autoridades para com os símbolos do centro da Paulicéia deixa marcas indeléveis em obras de escultores consagrados, apagando da história da cidade de 454 anos retratos de acontecimentos marcantes

Daniel Marques

Praça das Esculturas:


A Praça da Sé, considerada o marco zero da cidade de São Paulo, ficou cercada por tapumes durante um ano, como parte dos projetos de revitalização do centro histórico, porém o descaso público em conjunto com a deterioração natural permanece agindo sobre as valiosas esculturas do local. A concepção original da Subprefeitura da Sé de recuperar o grande espelho d'água, que circunda entre obras modernas de reconhecidos artistas plásticos, como o Condor, de Bruno Giorgi, e o Totem da Sé, de Domenico Colabrone, foi concluída, mas da fonte ainda jorra uma estranha água esverdeada. O prédio do Palácio da Justiça com sua fachada apontada para os jardins da praça também sofre um processo minucioso de restauração que deve ser finalizado em março de 2009. Destoando do cenário limpo e bem cuidado, ergue-se uma escultura sem título do mineiro Amílcar de Castro, instalada em 1979, com fundo para a renovada Catedral da Sé. A iniciativa de recuperar a praça não foi estendida a essa peça arquitetônica: a falta de cuidados deixou a chapa de ferro com coloração típica de ferrugem, não evitou as pichações de giz e tinta e permitiu a colagem de um cartaz contra a fome, bastante comum no centro histórico da capital paulista. À vista, nenhuma viatura da Guarda Municipal, enquanto quatro carros faziam a ronda da Prefeitura de São Paulo no mesmo momento.

Largo do Arouche:


O monumento que adorna uma pequena praça do Largo do Arouche ostenta o irônico título de Progresso e representa mais uma faceta da desigualdade social da capital paulista. A um quarteirão de distância da obra do escultor grego Nicolas Vlavianos, inaugurada em 1993, encontram-se tradicionais pontos turísticos como o restaurante O gato que ri e o mercado de flores do Arouche, que passou a ocupar seu lugar definitivo em 1953. No local da escultura, que não possui nenhuma placa com especificações de data e motivos de sua instalação, moradores de rua utilizam a base da peça de ferro pintada em vermelho para dormir, contrastando com um dos pontos mais elegantes do centro. Taxistas que trabalham em um ponto próximo da praça afirmam que o monumento não recebe atenção dos órgãos públicos responsáveis pela sua manutenção e que a péssima iluminação serve como convite aos sem-teto. Com o abandono completo, a tortuosa obra de Vlavianos, figura constante na Bienal de Artes de São Paulo desde o início da década de 1960, permanece no esquecimento.

Praça Júlio Mesquita - Avenida São João:


O histórico da Fonte monumental, implantada pela Prefeitura em 1927 para celebrar a construção da Praça Júlio Mesquita, junto à Avenida São João, sempre foi tumultuado por constantes degradações e tentativas frustradas de manter o projeto original da escultora Nicolina Vaz de Assis. Desde a segunda metade da década de 1980 a fonte foi rodeada por resistentes grades de ferro após denúncias de pichações. A iniciativa provou-se desastrosa desde o início, mas somente em 2004 a Subprefeitura da Sé decidiu livrar o monumento de sua jaula. Os efeitos de anos sem limpeza e conservação eram evidentes: rebuscadas lagostas de bronze, detalhes que rodeavam a escultura, haviam sido retiradas e grande parte da base de mármore estava danificada. Atualmente, a Fonte monumental figura no programa municipal Adote uma obra de arte, que pretende atrair investimentos privados para ajudar na recuperação do patrimônio histórico da cidade, porém ainda é nítido o descaso: o forte cheiro de urina comprova a utilização da fonte como banheiro público e inscrições feitas com giz de cera são detalhes facilmente vistos por toda a peça.

Ladeira da memória:

Entre todas as obras retratadas nesta reportagem, o Obelisco da Memória é a mais antiga, e inclusive ostenta o rótulo de monumento mais remoto da cidade de São Paulo. Sua inauguração, idealizada pelos escultores Daniel Pedro Mulher e Vicente Gomes Pereira, data de 1814 e diversas restaurações já foram realizadas, principalmente nos murais de azulejos portugueses que circulam a peça de pedra e nos jardins adjacentes. A FAMBRA (Federação de Amigos do Museu do Brasil) foi responsável pelos últimos reparos, concluídos em 13 de dezembro de 2005, a partir dos quais o chafariz central voltou a funcionar. Hoje o grande mural de azulejos pintados por José Wasth Rodrigues permanece sujo, com pinturas gastas, e disputa a atenção dos olhares com pichações nas cores preto e laranja.

Praça Doutor João Mendes:


A estátua "O engraxate e o jornaleiro", do italiano Ricardo Cipicchia, é um exemplo triste. O engraxate Amadeu Gonçalves da Cruz, que trabalha na Praça Doutor João Mendes há 12 anos, relembra como os dois rapazes esculpidos em bronze quase foram parar em um ferro velho: "Acho que há quase quatro anos um grande temporal derrubou algumas árvores aqui na praça e uma delas atingiu a estátua. Ela caiu e quase foi levada pela enxurrada", conta o senhor de 68 anos. Reerguida seis meses depois do acidente, hoje a escultura carrega uma marca de tinta com símbolos indecifráveis na parte traseira de seu pedestal.

A grande peça de bronze "Mãe preta", criação de Júlio Guerra e instalada no Largo do Paissandu em 1955, serve de ponto de encontro para adolescentes de rua fumarem maconha. O Imperador Cícero, esculpido por Humberto Galimberti Poletti em 1960 e colocado no Largo do Arouche, perdeu sua placa de identificação e agora carrega um cartaz do Movimento da Negação da Negação com os dizeres "Você Paga". Depois de ter arrancada sua dedicatória, o monumento ao ex-governador de São Paulo Abreu Sodré, na Praça da Liberdade, permanece apenas com uma cabeça desfigurada. Enquanto isso, o busto de Álvares de Azevedo, poeta que amou a vida e morreu aos 20 anos de idade, é alvo de pedestres que passam pelo Largo São Francisco e utilizam a homenagem do centro acadêmico da Faculdade de Direito da USP como banheiro.

São Paulo - Paraíso

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sala de estar

cozinha

estar e escritório

bancada

bancada e cozinha

circulação

escritório

PORTIFÓLIO - DESIGN

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Painel/prateleira com nicho

Painel decorativo

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Painel e pérgola com madeira de demolição

painel e pérgola de madeira de demolição

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